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Doutor Ratinho


Doutor Ratinho
Fábula de autoria da Prof.ª Mariângela Fernandes de Freitas.
Umarizal - Rio Grande do Norte – Brasil
(Caso você queira reproduzi-la, por favor, mencione a autora – dê créditos a quem tem crédito).

Esta, evidentemente, é uma história de ficção. Porém foi elaborada a partir de um sonho que tive há algumas semanas. Acordei com ela já pronta em minha mente.
Segundo a Doutrina Espírita, um caso assim tem a seguinte explicação: “Quando dormimos, apenas nosso corpo descansa enquanto nosso espírito, que não precisa desse deleite,  se desprende do corpo e passa a interagir com outros espíritos no Mundo Maior, ou no Mundo Espiritual”.
Sendo assim, creio que nessa referida madrugada enquanto meu corpo descansava, meu espírito teve um encontro com alguém, possivelmente um Instrutor; um professor da Vida Maior, muito interessado em contar a história a seguir, aos amigos que vivem aqui, no plano material.

Ei-la:
Havia, numa dessas grandes cidades, um famoso e respeitado laboratório de estudos científicos. E muitos animais eram usados diariamente nessas pesquisas por professores, estudantes e cientistas.
Lá no canto da sala, um grande grupo de ratinhos, todos muito branquinhos, estavam assustados, inquietos, diria aterrorizados. Eles estavam esperando sua vez para servirem de cobaias às experiências do tal professor.
O professor trabalhava e agia com indiferença absoluta ao terror que se podia ver nos olhos de tantos animais: para ele um gato ou um cão podiam miar e uivar de dor, todavia aos seus ouvidos aquilo era perfeitamente normal.
Ele estava somente interessado em dar resultados a seus pares e à indústria que o contratou para aquela pesquisa. E dias e noites, ali estava o médico-professor que fazia gemer de dor a centenas; milhares de animais. Tudo em nome da ciência e da sua reputação como homem de ciência e de “suprema” sabedoria.
Em certa ocasião, retirou um coelho de sua quietude pegando-o pelas orelhas e depois de imobilizá-lo, colocou em seus olhos uma substância química para observar se aquele líquido poderia um dia ser usado em seres humanos. Foi uma dor atroz. O coelho indefeso contorcia-se, debatia-se em gemidos até que se encolheu num cantinho da gaiola e após um determinado tempo ficou completamente cego. O pobre coelho viu-se apagar a luz que o deixou para sempre na escuridão e na dor.
O cientista, em sua insensibilidade, pegou outro coelho, e outro e mais outro e foi testando a droga que parecia ser feita de ardentes lavas vulcânicas.
Os ratinhos assistiam a tudo e sabiam que seriam submetidos a experiências igualmente ou muito mais dolorosas em breve tempo.
Certa noite, dessas de chuva torrencial e fortes trovões, o professor sentindo-se exausto, sentou-se e adormeceu debruçado sobre uma mesa em seu laboratório.
E aconteceu o inesperado: Uma voz suave, porém firme, fez-se ouvir no meio dos ratos apavorados.
Era a voz de um ratinho esquisito, ele tinha uma enorme orelha nas costas. A orelha havia sido criada e implantada pelo professor, numa de suas ambiciosas pesquisas.
Acontece que essa orelha era especial e o professor não desconfiava disso. Com ela o ratinho ouvia e decifrava muito claramente a voz e os cochichos humanos; ouvia aulas na faculdade e escutava quando os alunos discutiam assuntos científicos ou liam em voz alta. Essa orelha, grande e estranha o fez aprender muitas coisas interessantes nessa universidade e naquele laboratório. E fez desse ratinho, um mestre, um doutor: Doutor Ratinho.
Doutor Ratinho, humildemente, pediu silêncio aos companheiros de infortúnio e quando todos perceberam que estavam diante de uma inteligência bem acima dos padrões, calaram-se para ouvi-lo.
Então ele assim falou: "Sou diferente de todos vocês, como bem podem observar. Tenho uma orelha em cima de minhas costas que me faz ridículo e triste por todos esses anos, todavia me fez também um ser com uma inteligência acima do normal.
Escuto, decifro e entendo a linguagem humana. E com isso aprendi seus saberes. Seus livros para mim não têm segredos. Entendo de química e física como nenhum mestre dessa faculdade; em matemática, não há doutor que tenha coragem de me confrontar; leio e faço poemas e sou um grande observador e estudioso do comportamento humano e animal. Aprecio música e tenho uma família feliz.
O que me diferencia de um homem? Sou um animal irracional, mas como posso raciocinar? O homem é um animal racional, contudo como pode não raciocinar?
Sim, eles se comportam em muitas situações como verdadeiros irracionais. Eles são animais humanos e nós somos animais não-humanos.
Essa é a verdade. Não temos grandes diferenças em nossa formação biológica: temos cérebro – inteligência, coração, rins, sangue, tecidos, células. Sei correr quando tenho medo, mas eles também correm. Meu coração bate acelerado quando estou aflito, mas com os animais humanos a mesma coisa acontece.
Sentimos o mesmo frio, o mesmo calor, a mesma fome e a mesma vontade de dormir, descansar. Quando vejo o fogo, fujo com medo de me queimar, mas os animais racionais (homens e mulheres) também fazem a mesma coisa. Eles também têm medo do fogo que queima.
Quais as nossas fundamentais diferenças? Somos diferentes porque sou um rato? Mas conheço muitos homens-rato: eu os vi drogados, caídos nos mesmos esgotos sujos em que passeio todos as noites. Eu vejo esses homens-rato entrarem em Instituições Bancárias, em variadas empresas e em abastadas residências para roubar, causando assim enormes prejuízos financeiros e emocionais, principalmente quando ceifam a vida de outros seres humanos.
Eu sou um comedor de lixo? Mas vejo todos os dias, nos lixões das periferias das grandes e pequenas cidades, homens e mulheres a comer lixo do mesmo modo que eu. É assim que eles se julgam? Melhores do que um rato? Eles ainda não sabem que possuímos inteligência? Não tão superior, mas uma inteligência embrionária? Em evolução?".
E continuou com seu discurso noite adentro. Nenhum dos presentes perdia uma só palavra. Ali estava um sábio a lhes falar sobre assuntos tão palpitantes. Quem não queria ouvir?
Em meio a tantas importantes informações, que jamais algum rato ousara sequer sonhar, ouve-se um gemido terrível. Era o professor-cientista que havia caído da cadeira aonde dormia e agora se debatia no chão como um cão açoitado; tal qual um gato judiado.
Que acontecia? O fato é que ao se debruçar sobre a mesa para um rápido cochilo, o sábio cientista aspirara substâncias nocivas; altamente tóxicas e o veneno aspirado invadiu- lhe os pulmões indo parar em sua corrente sanguínea, sistema nervoso, coração.
E vejam só que ironia: ele agora tateava na escuridão. Ficara cego. Assim como os seus coelhos.
Então, sentindo a gravidade da situação, o jovem professor sentou-se no chão frio do seu centro de pesquisas e encolheu-se como um animal indefeso. Pensou sobre sua vida. Passou a limpo todos os seus procedimentos como animal racional que era e como homem de Ciências.
Lembrou-se dos debates acalorados com seus colegas, onde alguns, assim como ele, defendiam o uso de animais para pesquisas em laboratório e outros apresentavam soluções mais sensatas.
Lembrou-se de vários amigos biólogos, fisiologistas, os quais lhes falara sobre o uso de outros meios para se testar novas drogas em vez de usar animais como cobaias. 
Novas técnicas alternativas: testes in vitro (realizados em tecidos e células vivas), utilização de vegetais, estudos clínicos e não invasivos em pacientes humanos voluntários, estudos epidemiológicos, técnicas físico-químicas e estudos em cadáveres;
Disseram-lhe que é perfeitamente possível utilizar-se das novas e extraordinárias tecnologias para criar simulações em computador, softwares educacionais, filmes, modelos matemáticos, nanotecnologia e até manequins criados especialmente para os mais variados procedimentos nessas experiências científicas.
E diante de tais reminiscências; dessas lembranças dos queridos colegas mais adiantados na “Ciência das Emoções” e na “Ciência do Coração bom, justo e cheio de compaixão”, caiu em si, e mesmo sem enxergar a luz, ele viu mais claro. Porque antes ele olhava e não via, agora ele via mesmo sem olhar.
Pela primeira vez seus olhos estavam realmente abertos.
Levantou-se tateando pelas paredes, armários e mesas, abriu as malditas gaiolas em que aprisionava todos aqueles seres não-humanos que ali estavam no corredor da tortura e os libertou para sempre, em nome da compaixão e do respeito à vida animal.
Em seguida, ligou para alguns colegas mais próximos e lhes confessou em apenas meia dúzia de palavras: “Eu era cego, mas agora vejo”.
O professor-doutor, apendeu a ler em braile porque a partir daquele dia desejara entender a inteligência e as emoções dos animais.
E em seus momentos solitários de estudo e pesquisa, tinha consigo uma companhia alegre e irrequieta, que andava solto de um lado para outro, comendo pedacinhos de queijo e biscoitos de arroz: Doutor Ratinho: seu inteligente, querido e manhoso camundongo. 
Deus seja louvado!

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8 comentários:

Francilene Santiago disse...

Mariângela, parabéns pela iniciativa de provocar essa reflexão nas pessoas. Acho mesmo que os animais merecem e precisam ser amados e respeitados como qualquer outro ser vivo existente no planeta terra.

Jadson Xavier (JATÃO) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jadson Xavier (JATÃO) disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jadson Xavier (JATÃO) disse...

Jadson Xavier (JATÃO) disse...

GRANDE INICIATIVA
NESSA SUA NARRAÇÃO
MOSTRANDO AO HOMEM
QUE ANIMAL TEM CORAÇÃO
PRECISANDO SER AMADO
E POR NÓS RESPEITADO
EM QUALQUER OCASIÃO

O MUNDO É CRUEL
COM O SER ANIMAL
FALO DO BICHO BRUTO
CONSIDERADO IRRACIONAL
SENDO ELE MALTRATADO
MUITAS VEZES HUMILHADO
POR QUEM SE DIZ RACIONAL.

TEXTO: JATÃO VAQUEIRO.

Parabéns Mariangela pelo blog, ta um espetáculo, com ele você vai cada vez mais concientizar as pessoas que não devemos maltratar os animais. Abraço jatão.

Luis disse...

Bela postagem Tia Mariangêla. Espero que a sociedade abra os olhos para o mundo animal e passe cada vez mais a respeita-los.

um xêro...

Luís Araújo

Francilene Santiago disse...

"Desejo que você não tenha medo da vida, tenha medo de não vivê-la. Não há céu sem tempestades, nem caminhos sem acidentes. Só é digno do pódio quem usa as derrotas para alcançá-lo. Só é digno da sabedoria quem usa as lágrimas para irrigá-la. Os frágeis usam a força; os fortes, a inteligência. Seja um sonhador, mas una seus sonhos com disciplina, pois sonhos sem disciplina produzem pessoas frustradas. Seja um debatedor de idéias. Lute pelo que você ama."

Augusto Cury

Read more: http://passarinhosnotelhado.blogspot.com/#ixzz1j3f63NV0

Amandex disse...

visitante nº 164.blog legal, gosto de ler coisas que vc escreve..tera mha visita tds os dias... bjo.

naide disse...

muito legal o seu trabalho!

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