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EU DESEJO



Sábado, 28 de julho de 2012


EU DESEJO
Texto de Sérgio Jockymann



Desejo primeiro que você ame e que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim, mas se for, saiba ser sem desesperar.
 
Desejo também que tenha amigos, que mesmo maus e inconsequentes, sejam corajosos e fiéis e que pelo menos num deles você possa confiar sem duvidar.
 
E porque a vida é assim, desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos, mas na medida exata para que, algumas vezes, você se interpele a respeito de suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, para que você não se sinta demasiado seguro.
 
Desejo depois que você seja útil, mas não insubstituível.
E que nos maus momentos, quando não restar mais nada, essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.
 
Desejo ainda que você seja tolerante, não com os que erram pouco, porque isso é fácil, mas com os que erram muito e irremediavelmente e que fazendo bom uso dessa tolerância, você sirva de exemplo aos outros.
 
Desejo que você, sendo jovem, não amadureça depressa demais... E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer e que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e é preciso deixar que eles escorram por entre nós.
 
Desejo por sinal que você seja triste, não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra que o riso diário é bom, o riso habitual é insosso e o riso constante é insano.
 
Desejo que você descubra, com o máximo de urgência, acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos, injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.
 
Desejo ainda que você afague um gato, alimente um cuco e ouça o joão-de-barro erguer triunfante o seu canto matinal porque, assim, você se sentirá bem por nada.
 
Desejo também que você plante uma semente, por mais minúscula que seja e acompanhe o seu crescimento, para que você saiba de quantas muitas vidas é feita uma árvore.
 
Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro, porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano coloque um pouco dele na sua frente e diga "Isso é meu" só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra, por ele e por você, mas que se morrer, você possa chorar sem se lamentar e sofrer sem se culpar.
 
Desejo por fim que você sendo homem, tenha uma boa mulher e que sendo mulher, tenha um bom homem e que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes e quando
estiverem exaustos e sorridentes, ainda haja amor para recomeçar.
 
E se tudo isso acontecer, não tenho mais nada a te desejar. 





Biografia


Sérgio Jockyman ,Palmeira das Missões, Rio G. do Sul, 29 de abril de 1930Campinas, 16 de fevereiro de 2011, foi um jornalista, romancista, poeta e dramaturgo brasileiro.

Seu pai, um engenheiro agrônomo e farmacêutico, e sua mãe, professora primária, tiveram uma forte influência para que nele despertasse o gosto pela literatura.

Nas eleições de 1988 foi candidato derrotado à prefeitura de Porto Alegre pelo Partido Liberal. Nos últimos meses morava na casa da filha em Campinas.

Faleceu aos 80 anos de idade, no Hospital de Clínicas da Universidade Estadual de Campinas, onde estava internado desde 29 de dezembro do ano anterior, para tratar uma insuficiência renal crônica. Foi cremado na cidade de São Paulo.

 
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1 comentários:

wesleyrj disse...

Faço deste poema minha Constituição pessoal. De tempos em tempos eu o releio e percebo que minha condição de humano me impede de cumpri-lo integralmente. Ainda assim, faço dele uma bússola. Apesar de nunca caminhar em linha reta, rumo sempre em busca do Norte.

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