Imagem extraída do Facebook - jun - 2012
Bom dia!
Segunda-feira,18 de junho de 2012
SABE TUDO E ZÉ NINGUÉM
Texto de autoria de Mariângela Freitas
Quisera poder escrever com a leveza de Emmanuel - o Amigo e Guia Espiritual do médium Chico Xavier. Eu o admiro.
Para quem está familiarizado com a literatura espírita e com os textos desse Espírito de tão alta magnitude, sabe bem do que estou falando. E qualquer um pode conhecê-los. Basta pesquisar nos sites de busca e ali estão: Chico, Emmanuel e seus sábios conselhos e ensinamentos.
Faltando-me a sapiência de ambos (Emmanuel e Chico) para escrever este texto que me foi inspirado, trago até aqui, meu linguajar ainda imaturo e rígido e venho contar uma história que talvez tenha se passado tantas vezes em nosso sertão. Seja este sertão físico ou mental.
Começa assim: SabeTudo (Esse o nome daquele homem), tomou do seu carro e meteu-se mato adentro. Depois de léguas e léguas no sol e na companhia de cactos escurecidos pelo calor do sertão, parou sob a sombra de um refrescante juazeiro. Ali encontrou uma figura humana: Zé Ninguém - o matuto.
O carro reluzente, porém empoeirado encheu de pedregulhos os pés de Zé Ninguém. SabeTudo desce do carrão e acha que encabulou o matuto velho, este já bem acostumado com essas carroças que a ferrugem um dia vai comer.
-Bom dia! Fala o bonitão.
E o feioso responde: Dia!
Aí já aconteceu o choque. O Bonitão, SabeTudo, fica mesmo impressionado com a pobreza do lugar, com o magreza do "retardado", com sua lerdeza de sertanejo enrugado e envelhecido prematuramente.
Daí a conversa:
SabeTudo: Gosta daqui?
Zé Ninguém: É bom.
SabeTudo: E água?
Zé Ninguém: Só quando chove
SabeTudo: Não tem mar por aqui?
Zé Ninguém: Vai ter. Quando ele invadir suas praias. Depois que vocês sufocarem os céus de fumaça, as calotas polares, as geleiras vão se desmanchar e as águas vão chegar ao sertão. "O sertão vai virar mar e o mar vai virar sertão".
SabeTudo: Sabido você! De onde tirou isso?
Zé Ninguém: Já tem parabólica por aqui.
SabeTudo: E isso foi da TV?
Zé Nínguém: Uma parte. A outra foi dos livros.
SabeTudo: Não me diga que você sabe ler?!
Zé Ninguém: Dá pro gasto.
SabeTudo: Ah, então é um doutor!!!
Zé Ninguém: Não chego a tanto.
SabeTudo: O que lhe faz viver nesse fim de mundo? Aqui não tem nada.
Zé Ninguém: Aonde é o fim do mundo? Quando você está lá no seu mundo, aqui onde moro é o fim do mundo. Mas estando no meu, o fim do mundo é aonde você mora. Estamos nas pontas. Cada ponta é o fim. E dizer que aqui não tem nada, é temeridade.
SabeTudo: Aqui tem alguma coisa? Só vejo solidão, espinhos, pedras, vacas magras, açudes secos, árvores sem vida.
Zé Ninguem: Escute bem, seu moço:
1º- A solidão está na sua mente. Você vê o que está em em você. Sua mente reflete seu mundo. Eu estou preenchido de amor porque assim vejo a Vida.
2º- Os espinhos me servem pra lembrar daqueles que só ferem porque nada mais tem a dar. Portanto são bons companheiros de jornada.
3º- Minhas vacas estão magras, mas não as abandonei porque quando gordas deram leite aos meus filhos.
4º- Sem chuva, os açudes secam mas posso ler em seu leito a lição da fartura e da escassez e isso me faz aprender a conduzir-me bem em dias de felicidade e de amarguras.
5º- E isto aqui não são árvores sem vida. Elas hibernam. Dormem para acordar no tempo próprio, dando-nos a lição da paciência e da esperança.
SabeTudo: Você tirou isso de algum almanaque?
Zé Ninguém: Não. Assim como você e seus filhos, também sou um internauta. Navego pelos mares da sabedoria e do conhecimento todos os dias. Fazemos nossas escolhas. Por quais mares você navega?
SabeTudo: Acho que me equivoquei a seu respeito.
Zé Ninguém: A culpa não é sua. É da minha roupa, do meu cheiro e do carro que não possuo.
SabeTudo: Vou indo. Tenho que seguir viagem.
Zé Ninguém: Vá com Deus!
(O carro não anda. Faltou combustível?)
Zé Ninguém convida SabeTudo para um passeio na velha carroça. Tange o burro com um leve toque de uma comprida vara. E SabeTudo o interroga: - Por que não o açoita? Ele avançaria pelos campos mais depressa.
Não tenho pressa. Além disso não costumo maltratar os animais.
E SabeTudo, sem nada compreender, porque em sua mente era tudo muito novo e muito confuso, admirou-se da delicadeza com que aquele animal era tratado.
E no trote manso daquele humilde quadrúpede (o burro), no sopro quente dos ventos do sertão, na tarde morna que trazia perfumes exóticos às narinas mais sensíveis, aqueles dois homens encontravam-se recolhidos em seus próprios sonhos, em suas próprias dores e nas meditações mais profundas que só Deus poderá saber.
1 comentários:
Parabéns Mariangela pelo BELO texto.
Nunca devemos substimar a inteligência de um Matuto,eles nos dá lições d vidas incriveis.
Postar um comentário