Escrito por Silvana N. Barboza
Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP
Há muitos livros, filmes e outros que mostram famílias que se
amam e outros tantos que mostram famílias que se odeiam.
Usando do princípio do copo meio cheio ou meio vazio podemos
olhar o viver em família como o lugar de todos os sofrimentos, mas
poderia ser também um lugar de liberdade e proteção.
Na família são vividas situações fantásticas que podemos
utilizar para vencer as adversidades da vida cotidiana.
“As famílias são semelhantes à grandes árvores, cujos galhos
desabrocham na primavera... mas acontece que, às vezes, um dos
ramos não dá botões ou nenhum botão se abre e nenhuma flor
desabrocha”.
O papel do terapeuta familiar é o de um jardineiro que traz um
bom adubo, boa terra ajudando aquela árvore a aproveitar a seiva e
florescer.
Quem nunca de sentiu, em algum momento, preso na própria
família ?
Quem nunca teve a impressão de ser esmagado por uma
realidade sobre a qual não podia influir?
Na maioria das vezes não é a realidade em si que nos prepara
uma armadilha, mas a realidade construída com o passar dos anos e
os acontecimentos.
Cada um representa um papel diferenciado na família e essa
distribuição de papéis, em geral, é feita à revelia de todos. Como se
fosse uma armadilha, alguns se sentem prisioneiros.
Algumas vezes centramos o foco num dos membros da família
e ele vira o depositário de todos os males, “o doente”, sendo que na
maioria das vezes ele é apenas o portador de um sintoma que afeta a toda a família.
Não é necessário que o outro esteja errado para que tenhamos
razão.
Sobreviver a própria família é sobreviver a idéia que fazemos
dela.
Por que me sinto preso na minha realidade familiar?
Será que não participo contra a minha vontade de uma situação
que pode ser mútua?
Desde o nosso nascimento, estamos presos a um contexto: a
maneira como fomos desejadas, esperadas, olhadas, o nome que
recebemos e muitos outros elementos que constituem regras e mitos, criados e compartilhados entre os membros da família, cuja
permanência ela garante.
À medida que crescemos, os mitos e regras da família não
podem mais ser diferenciados entre a maneira como eu os percebo e
como e sinto em relação à elas.
Passamos a ser atores da peças que representamos juntos e
fica cada vez mais difícil ter o direito de ser “desleal” em relação a
aqueles que nos cercam.
Como passar a ver a família de modo diferente ao que sempre
vimos até hoje?
Como mudar as rotinas repetitivas e aparentemente inevitáveis
que participamos e nos sentimos atolados?
É necessário conquistar nossa capacidade de modificar as
regras do sistema em que vivemos o que nos permitirá mudar e
também aos outros membros da família.
Os vínculos que nos unem aos nossos familiares, que muitas
vezes nos causam sofrimento, podem ser também o caminho da
nossa libertação e da deles.
Em geral subestimamos a nossa parte na construção do grupo
em que vivemos.
Precisamos tomar consciência as regras e
estruturas do grupo em que vivemos recuperaremos nosso livre arbítrio e poderemos modificar nosso futuro.
Para tomar consciência dessas limitações as quais nos impomos
é só perguntarmos a nós mesmos se nos sentimos excluídos e
rejeitados ou se excluímos e rejeitamos nossos familiares.
O nosso sofrimento é alarme que nos avisa que algo está
errado e que não é mais possível conseguir suportar essas regras
contra a nossa vontade.
Precisamos delimitar nosso território, nos libertar dessas
regras, mas com firmeza para não correr o risco de ficar imobilizado
exatamente no lugar que o grupo familiar nos colocou e ainda mais
na figura do bode expiatório permitindo que a família com a
consciência limpa nos marginalize ou ainda nos exclua.
As regras que regem uma família são criadas por todos os seus
membros e é o que os une, que faz todos se sentirem membros
daquele grupo, portanto sobreviver a própria família não é uma coisa que acontece naturalmente.
É preciso não seguir os modelos passados pelos ancestrais se esses não forem os que me servem, mas como fazer isso sem quebrar a lealdade.
Um rompimento familiar muitas vezes parece uma solução
radical, mas, quando manifestamos todo nosso respeito por eles,
pelas suas vidas e escolhas ao mesmo tempo em que recusamos
seguir os seus caminhos, estamos legitimando a nós mesmos.
Precisamos aprender a dizer “sim” sem ficarmos furiosos e dizer
“não” sem sentirmos culpa.
REFERÊNCIA
ELKAIM, M., Como sobreviver a própria família. São Paulo: Integrare Editora, 2008Fonte: http://www.sinerr.com.br/
Postado por Mariângela Freitas, em 04.03.2012
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